…Nunca fui fã de palhaços (in Blog Hugo Silva)
Dezembro 2, 2013
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Festas de Natal
Novembro 3, 2017
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António Assunção

Palhaço Croquete – há 35 anos a distribuir sorrisos.

Portugal, 1978. Recuemos a uma época em que o panorama televisivo português era povoado por um só canal e em que os teatros se enchiam de gente. Um tempo de convulsões políticas em que ainda se sentia o último fôlego das ações revolucionárias.
Foi esse o tempo que viu nascer “Croquete e Batatinha”, a dupla de palhaços a quem coube a tarefa de fazer rir os portugueses numa época de desafios difíceis e mudanças bruscas.
Pode dizer-se que os dois homens eram bemsucedidos: nas coletividades, no teatro, na televisão, “Croquete e Batatinha” foram conquistando primeiro as crianças e depois os adultos. Primeiros as aldeias e depois o país. Para provar o que dizemos, deixamos-lhe as linhas que a revista Time Out dedica a António Assunção no seu último número: “Se não sabe quem é o Croquete, das três uma: ou é demasiado novo, ou é demasiado velho (e a sua memória já não é o que era) ou tem fobia de palhaços.
Seja qual for o caso, fique sabendo que nos anos 80 não havia miúdo nem graúdo que não conhecesse a mítica dupla “Croquete e Batatinha”.

No ano em que comemora 35 anos de carreira, o “C” foi conhecer o homem calmo e sereno por de trás da maquilhagem e da vestimenta espalhafatosa:António Assunção.
“Amoreirense” convicto que reside na mesma casa que há 58 anos o viu nascer, (na Amoreira, claro) António viu-se obrigado a abandonar a Vila de Cascais com apenas sete anos, trocando a liberdade do Atlântico pela pacatez de uma aldeia em Ponte de Lima.
A adaptação foi difícil mas ao mesmo tempo essencial para aquela que viria a ser a sua formação enquanto homem mais humilde e tolerante: “No início foi difícil. Sonhava que era uma gaivota e que voava dali para fora. Mas, com o tempo, a experiência minhota foi fascinante porque as pessoas eram todas muito generosas.”

Num país à época fechado, taciturno e melancólico, o apelo pela profissão de palhaço surge após um trabalho de animação no Hotel Paris proposto por um amigo, o médico João Olias. “Aquela atuação era para durar 10 minutos
e acabou por ter cerca de 1 hora. Foi um sucesso. Naquele dia disse: Quero ser palhaço!” Nessa mesma ocasião, conheceu aquele que viria a ser o seu colega de carreira, António Branco ou “Batatinha”.
Durante anos, os dois galgaram milhares de quilómetros pelo país, produziram centenas de espetáculos e fizeram milhares de miúdos e graúdos rir. Mas ao mesmo tempo que “Croquete e Batatinha” se tornavam ícones da animação, as incompatibilidades acumulavam- se na mesma proporção do sucesso que os tinha levado a ter um programa próprio na RTP.
A dupla acabaria por separar-se mas o episódio não impediria António Assunção de prosseguir com a carreira, agora a solo, convicto de que era, no mundo do espetáculo, um tipo diferente de personagem: “Eu nunca fui artista na verdadeira acessão da palavra. Eu sou palhaço”, afirma em tom contundente. E que tipo de palhaço? Daqueles que sabe que as crianças podem, crescer e aprender através de brincadeiras e gargalhadas. Daqueles que evitam ser “palhaços fáceis”, que ligam ao tom mais depreciativo da palavra.

O Croquete é um criador de emoções mas isso coloca desafios com que só o António pode ultrapassar: “É difícil ser um gestor de emoções até porque também sofro. Há situações com crianças que me perturbam mas, por outro lado, enchem-me de alegria e provocam-me emoções extraordinárias.
O fascínio das crianças é o melhor “cachê” que se pode ter!” Mas a vida de Palhaço não é só gargalhada e Croquete relembra, com alguma tristeza, o momento mais difícil de superar até hoje durante uma atuação: “Quando fui pai pela primeira vez coincidiu com a primeira atuação no Instituto Português de Oncologia. Foi já há muitos anos. Era Carnaval e havia uma menina mascarada com um cabelo loiro comprido fascinante. Num percalço, a peruca caiu e entrei em choque quando percebi que a menina não tinha cabelo. Não me saia da cabeça a possibilidade daquela criança poder ser meu filho.”

Aos 58 anos, António Assunção conhece como poucos o território, as coletividades e as escolas do concelho a quem se dedicou quase em exclusivo – e não apenas como palhaço. Desenhador projetista, radialista, guionista, ator, repórter António Assunção é um comunicador mas, sobretudo, um homem apaixonado pela comunicação.

Hoje, e apesar nem lhe passar pela cabeça pendurar os sapatões do “Croquete”, Antonio Assunção lidera o projeto TV Portugal, uma ‘web tv’ local que leva notícias às pessoas através da Internet. Resumindo: “Tenho a felicidade de fazer o que gosto.”
De câmara ao ombro e tripé na mão, António Assunção tem um olhar privilegiado sobre Cascais. “Para mim, Cascais é um sítio único. Para mim, Cascais é o ar que eu respiro.” A Vila para António não tem segredos e o “Croquete” também não tem segredos para a Vila onde deseja que a vida, mesmo neste tempo difícil, seja levada com um sorriso nos lábios.

in Cascais.pt